A canela é o osso mais longo e espesso da perna, localizado entre os pés e os joelhos. Anatomicamente, é chamada de “tíbia”, e, exceto pelo fêmur, é reconhecida como o maior osso do corpo que suporta peso. Como indicado na imagem, todos os ossos são envolvidos (na parte externa) por uma estrutura fibrosa e inervada chamada periósteo, que é a responsável pela proteção e nutrição do osso, podendo ajudar também como um ponto de fixação para os músculos.
Essa região da canela é formada por muitos músculos, responsáveis pelos movimentos dos pés, dedos e tornozelos. Um dos principais é o tibial posterior, que ajuda na sustentação do arco longitudinal medial, que, por sua vez, distribui carga e amortecimento para o corpo. Outro músculo importante é o tríceps sural (na panturrilha), que, formado pela união dos músculos gastrocnêmios e sóleo, tem a função ligada à postura e à locomoção.
O alinhamento natural da pessoa e o tipo de pisada são importantes para amortecer o peso e o impacto do corpo em todas as atividades exercidas. Essa pisada pode ser neutra, pronada ou supinada.
O movimento da pisada pronada acontece para dentro, e o da pisada supinada acontece para fora, como mostra a imagem acima. Já a neutra é ideal e representa uma pisada sem movimentos muito grandes tanto para dentro quanto para fora, ou seja, possui um sistema que funciona com a pronação e a supinação na medida certa.
Quando a pessoa não tem um bom alinhamento, a carga em cima do corpo acaba sendo maior, e por isso tem mais chances de desenvolver algum tipo de dor na canela. Os problemas nessa região estão relacionados principalmente com a pisada excessivamente pronada.
O pé possui uma elevação na parte interna, que é chamada de arco plantar, um dos responsáveis pela distribuição de carga e amortecimento de impacto do corpo, sustentado, principalmente, pelo músculo tibial posterior. Mas, esse arco pode ter algumas variações anatômicas, que podem ser causadoras de dor na canela, sendo elas denominadas como “pé chato” e “pé cavo”.
Os pés chatos (planos) geralmente estão relacionados à pronação excessiva durante a corrida ou caminhada, onde há um desabamento do arco longitudinal medial – situação que causa mais estresse no pé e pode afetar a canela. Isso acontece porque, ao correr, o músculo tibial posterior faz mais força para sustentar o arco do pé e como consequência pode causar uma inflamação do periósteo da tíbia, a canelite, já que as estruturas da região (tanto ossos quanto músculos) ficam sobrecarregadas. Em casos mais graves, pode haver uma insuficiência do tendão tibial posterior.
Já os pés cavos possuem arcos mais altos e estão ligados com a supinação do pé. Nesse caso, como no anterior, também são afetados mais aqueles que praticam esportes de impacto, como a corrida.
A dor na canela, na maior parte das vezes, acontece pelo desgaste físico em atividades e exercícios. Como já citado antes, as principais “vítimas” dessa dor são as pessoas que correm bastante e acabam sobrecarregando a região ao não tomar alguns cuidados e cometendo os descuidos abaixo:
As dores na canela são sentidas na parte da frente da perna, na própria tíbia, e podem acontecer tanto durante o repouso quanto durante os exercícios, mas a maior intensidade é no início e fim de treinos. De acordo com o estudo “Medial tibial stress syndrome: conservative treatment options”, a dor na canela está ligada à corrida e às práticas esportivas com traumas repetitivos.
Na maioria das vezes, as dores nessa região podem significar canelite, mas também podem estar relacionadas a desalinhamentos, tipos de pés, desigualdade de membros, fraqueza do músculo tibial e, quando não diagnosticadas e tratadas logo, até mesmo fraturas por estresse.
Os casos de canelite também são conhecidos como periostite da tíbia e/ou Síndrome do Estresse Tibial Medial, patologia que é definida como uma lesão que acontece por excesso de carga (overuse) nas pernas. Essa inflamação afeta diretamente o periósteo tibial (membrana que envolve o osso), aparecendo quando as estruturas ao redor da tíbia não suportam a carga imposta pelo corpo.
Se a pessoa não tem um bom alinhamento, como consequência, terá uma carga maior a suportar, e assim terá mais chances de desenvolver algum tipo de dor na parte da frente da perna, no osso da canela. A canelite é também a principal causa de fraturas por estresse, mais rara de acontecer, mas acontece nos casos mais crônicos e que não tiveram o tratamento adequado.
Existe outra condição que pode ser confundida com a canelite, mas na realidade são bem distintas, inclusive nos cuidados para tratá-las: é a dor no músculo tibial anterior. Importante saber que enquanto a canelite (Síndrome do Estresse Tibial Medial) causa dor na tíbia, onde é possível sentir o osso; o músculo tibial anterior fica na parte de fora da canela. As dores nessa segunda região são bem mais raras e acontecem devido a um problema direto nesse músculo, enquanto que na canelite o problema principal é a reação do osso à sobrecarga, que acontece por vários motivos, como já citado.
As dores na canela, geralmente, acometem os praticantes de atividade física, portanto, a primeira coisa a fazer quando se sente essa dor é descansar e diminuir a carga de exercícios. Para aqueles que não querem de forma alguma ficar parados, uma boa dica é trocar o tipo de atividade por uma com menor impacto, como exemplo a natação, ao invés da corrida. Ao voltar às atividades, é preciso cuidado na hora de escolher o terreno onde andar e correr, equilibrar a intensidade, procurar orientação especializada e, se possível, corrigir alterações.
Além disso, é importante procurar um médico especializado, principalmente se a dor for forte ao ponto de tornar difícil levantar-se e caminhar, além de vir acompanhada de outros sintomas. Um fisioterapeuta também pode auxiliar aconselhando no tratamento. Algumas atitudes podem ser feitos em casa e ajudam na melhora das dores na canela, como:
A palmilha sob medida alivia as dores na canela e evita novos problemas, já que é feita sob medida para melhorar o amortecimento de impacto das pessoas, sejam elas praticantes da corrida ou não. As palmilhas também ajudam bastante em casos de alterações biomecânicas, pois oferecem apoio para o arco longitudinal medial e corrigem a pisada.
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